AGÊNCIA PÚBLICA: “O JORNALISMO NA LINHA DE FRENTE: MESA COMO COBRIR O GOVERNO DE MANEIRA EQUILIBRADA."
- Mariele Santos
- 21 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2024
A prática da transparência e responsabilidade jornalística, seja conduzida por profissionais ou comunicadores, não apenas molda a cultura social, mas também serve como um farol ético na busca pela verdade e pela justiça.

Foto: @agenciapublica Rubens Valente mediador Fabiana Moraes e Juliana Del Piva.
Uma das mesas do dia, mediada por Rubens Valente, concentrou-se na discussão sobre a cobertura jornalística em seus mais diversos aspectos. Participaram desta mesa Fabiana Moraes e Juliana Del Piva, trazendo suas perspectivas e experiências sobre como cobrir o governo de maneira equilibrada. Em comemoração aos 13 anos da Agência Pública, em parceria com o curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP, foi realizado o evento “Pública 13 anos: O jornalismo na linha de frente da democracia”.
A discussão girou em torno do equilíbrio necessário na cobertura do governo.Existe uma corrente no jornalismo profundamente comprometida com a busca pela independência em várias áreas. No entanto, essa independência muitas vezes é influenciada por fatores diversos. É vital evitar se prender a um jornalismo intermediário, que por vezes funciona como contraponto ao jornalismo comercial, mesmo que tenha surgido dele. Portanto, é essencial buscar um equilíbrio que não se apoie apenas no modelo comercial, mas sim em um modelo que englobe uma variedade de perspectivas.
Em uma reflexão sobre o conceito de equilíbrio na cobertura jornalística, Fabiana Moraes, Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PósCom) e da graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), levanta questões essenciais sobre a representatividade na mídia. Moraes traz uma perspectiva crítica e informada ao discutir a maneira como a mídia aborda o equilíbrio na cobertura de eventos. Ao contestar a ideia tradicional de que o equilíbrio é alcançado ao ouvir os dois lados de uma história, ela destaca a complexidade desse conceito, especialmente quando consideramos a vasta diversidade da população brasileira.

Foto: @agenciapublica ,Fabiana Moraes.
"A gente teve uma ideia de que o equilíbrio seria ouvir dois lados. Isso é um clássico. E aí, isso também seria uma grande quimera, esse ouvir dois lados. Na verdade, quando a gente vai pensar numa vasta população da qual faça parte, por exemplo, o pessoal do Círculo da Oração ou o pessoal que está nas cidades, satélites, nas periferias, enfim, essas pessoas nunca foram o outro lado que estava sendo ouvido. Então, esse outro lado, essa performance de equilíbrio, ela sempre também está associada aos espaços de poder. Ela não tem um outro lado para ouvir uma faixa da população brasileira."
Avanços significativos têm sido alcançados em direção a uma cobertura jornalística mais ampla e crítica. Entretanto, esse equilíbrio deve ser compreendido dentro de um contexto mais amplo, que inclui a diversidade de vozes e a representatividade das diferentes realidades sociais e políticas. É crucial reconhecer que a imprensa comercial muitas vezes foca apenas em uma parte da sociedade, ignorando grupos marginalizados e suas necessidades.
Além disso, a busca pelo equilíbrio na cobertura do governo também implica em uma compreensão mais profunda das dinâmicas de poder em jogo. Não se pode simplesmente tratar todos os atores políticos como iguais, pois isso apenas perpetua desigualdades e injustiças. É fundamental nomear e criticar as empresas privadas que exercem influência sobre as políticas públicas, reconhecendo que o governo não age sozinho, mas sim em colaboração com interesses diversos, frequentemente oriundos do setor privado.

Foto: @agenciapublica , Juliana Dal Piva.
Juliana Dal Piva, jornalista catarinense formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio, traz uma valiosa perspectiva sobre os desafios contemporâneos enfrentados pelo jornalismo. Com experiência como repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL, além de integrar a equipe internacional do Centro Latinoamericano de Investigação Jornalística (CLIP), Juliana é uma voz influente no cenário midiático. Apresentadora do podcast “A vida secreta do Jair” e autora do livro “O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro”, da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023, suas contribuições são amplamente reconhecidas.
Ao discutir as transformações no jornalismo devido às redes sociais, inteligência artificial e algoritmos, Juliana destaca os riscos de os veículos de comunicação serem sequestrados por narrativas, interesses econômicos e pressões externas. Ela aponta para a influência das métricas de audiência, especialmente aquelas impostas por plataformas como o Facebook, que muitas vezes moldam a produção de conteúdo jornalístico. Juliana ressalta que, embora seja importante considerar a audiência, o jornalismo não pode ser totalmente direcionado por essas métricas, enfatizando a necessidade de manter a independência editorial e o compromisso com a qualidade e a veracidade da informação. Sua análise crítica e perspicaz oferece uma visão esclarecedora sobre os desafios enfrentados pela imprensa contemporânea.
Portanto, a chave para uma cobertura equilibrada do governo é adotar uma abordagem que leve em consideração não apenas os discursos políticos, mas também os interesses econômicos e sociais em jogo. É necessário questionar as narrativas dominantes e dar voz às perspectivas marginalizadas, a fim de promover uma cobertura mais justa e representativa. Isso requer um compromisso com a verdade, a transparência e a responsabilidade jornalística, mesmo diante de pressões e desafios.

Foto: @agenciapublica , Rubens Valente.
No Brasil, as feridas causadas pelos crimes contra sua própria população durante a ditadura militar continuam abertas, clamando por justiça e verdade. A resistência em levar os responsáveis à justiça e a persistência de uma cultura de silêncio em torno da Lei da Anistia têm impedido o país de confrontar seu passado sombrio. Enquanto isso, a corrupção se enraíza na política brasileira, minando os recursos públicos e a confiança da população nas instituições.
A imprensa, por sua vez, enfrenta seus próprios desafios, incluindo métricas de audiência e pressões comerciais que muitas vezes influenciam a cobertura jornalística, levando a uma narrativa desequilibrada e superficial dos eventos políticos e sociais. A disseminação de notícias falsas e a polarização nas redes sociais complicam ainda mais o cenário, obscurecendo a verdade em meio ao ruído da desinformação.
Apesar dos desafios, há uma luz de esperança. A sociedade civil continua a exigir transparência, responsabilidade e justiça. Os jornalistas perseveram, buscando contar as histórias não contadas e revelar a verdade por trás das mentiras e manipulações. É uma batalha árdua e muitas vezes desgastante, mas é uma batalha que não pode ser abandonada. Somente confrontando o passado, desafiando o presente e lutando pela verdade, o Brasil poderá um dia encontrar a cura para suas feridas e construir um futuro mais justo e equitativo para todos os seus cidadãos.



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