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ONGs NA ERA DA IA: UM RECORTE GLOBAL DAS PERCEPÇÕES SOBRE ADOÇÃO TECNOLÓGICA

  • Foto do escritor: Mariele Santos
    Mariele Santos
  • 16 de abr.
  • 4 min de leitura


Você Confiaria numa ONG que Usa IA?

Ilustração por iStock_ stellalevi.
Ilustração por iStock_ stellalevi.

*Com informações de IDIS


A inteligência artificial já faz parte do nosso dia a dia de formas tão naturais que muitas vezes nem percebemos sua presença. Além dos teclados que preveem palavras e aplicativos que evitam engarrafamentos, a IA está em assistentes virtuais que agendam compromissos, em plataformas de streaming que recomendam filmes sob medida para nossos gostos, e até em wearables que monitoram nossa saúde em tempo real. No setor financeiro, algoritmos analisam transações para detectar fraudes em milissegundos, enquanto no varejo, chatbots atendem clientes 24 horas com respostas precisas.


No entanto, apesar da conveniência, ainda há um misto de fascínio e receio em relação a essa tecnologia. A falta de regulamentação clara gera dúvidas sobre privacidade de dados, como no caso de assistentes de voz que armazenam conversas ou redes sociais que utilizam reconhecimento facial. Além disso, a automação de tarefas antes manuais — desde atendimento ao cliente até análises jurídicas — levanta questionamentos sobre o futuro de diversas profissões.


Essa dualidade entre benefícios e preocupações também se reflete no terceiro setor, onde organizações tentam equilibrar inovação e confiança.


A pesquisa inédita “O que pensam as pessoas sobre o uso de IA por ONGs”, realizada pela Charities Aid Foundation (CAF) — organização britânica representada no Brasil pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) — , revela percepções globais sobre como a inteligência artificial está sendo recebida no terceiro setor. O estudo, que ouviu mais de seis mil pessoas em 10 países (incluindo o Brasil), buscou entender:


Como as instituições de caridade podem aproveitar as oportunidades da IA, equilibrando-as com a mitigação de riscos?


Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.
Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.

Assim como em outros setores, as ONGs enfrentam desafios que vão além da implementação técnica. Questões como adaptação das equipes, capacitação e a aceitação por parte de doadores são centrais nessa discussão. Como principal articuladora entre doadores e entidades beneficentes no Reino Unido, a CAF destaca que o maior dilema não está apenas na adoção da tecnologia, mas em como usá-la de forma a engajar, e não afastar, os apoiadores das causas.


 Percepção Pública sobre o Uso de IA


A pesquisa revela que a opinião pública sobre IA divide-se em três grupos principais: os cautelosos (22%), que priorizam os riscos; os equilibrados (34%), que veem igualdade entre benefícios e desafios; e os otimistas (37%), que enfatizam as oportunidades. Uma pequena parcela (7%) ainda desconhece o tema. 


Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.
Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.

O destaque vai para a maioria (71%) que demonstra neutralidade ou abertura à IA, indicando potencial de aceitação. Esses dados indicam que, embora a IA tenha potencial de aceitação, sua adoção requer transparência, governança e comunicação clara sobre casos práticos — como uso em saúde ou combate a desinformação.


Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.
Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.

O Quênia se destaca significativamente, com 44% da população enfatizando as oportunidades da IA — o maior índice entre os países pesquisados. O Brasil aparece em segundo lugar, com 30% de visão positiva, seguido por Polônia e Indonésia (ambos com 28%).


Em contraste, a Austrália é o único país onde mais pessoas focam nos riscos (-4%). Nações como Estados Unidos, Reino Unido (5% cada) e Japão (11%) demonstram cautela significativa em relação à IA.


Países com maior otimismo tendem a enxergar a inteligência artificial como uma ferramenta para desenvolvimento, enquanto nações com economias mais estabelecidas demonstram maior preocupação com a regulamentação desse avanço tecnológico. Nesse cenário, a Austrália se destaca como um caso único, apresentando uma percepção predominantemente negativa em relação à IA.


Principais Preocupações sobre IA em Organizações


Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.
Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.

O impacto no emprego lidera as preocupações (27%), com forte receio de que a automação elimine postos de trabalho. Em segundo lugar está a segurança de dados (23%), com temores sobre vazamentos de informações sensíveis. Outros riscos significativos incluem: viés algorítmico (15%), que pode perpetuar discriminações; a perda da conexão humana (11%) em atividades sociais; e dilemas éticos (10%) sobre os valores incorporados nos sistemas. Essas preocupações refletem a tensão entre eficiência tecnológica e impactos sociais.


Principais Oportunidades da IA que Entusiasmam o Público


Os dados revelam que as maiores expectativas positivas em relação à IA concentram-se em sua capacidade de agilizar respostas a desastres (28%) e ampliar o alcance de ajuda a mais pessoas (25%), destacando seu potencial para impacto social direto. Outras oportunidades significativas incluem o aumento de eficiência operacional (16%) por meio da automação de tarefas e a melhoria na tomada de decisões (12%) com base em dados. Apesar de menos citados, aspectos como gestão de voluntários (7%) e comunicação personalizada (5%) também aparecem como vantagens, mostrando um reconhecimento amplo do potencial transformador da IA no terceiro setor, desde que aplicada de forma estratégica e humanizada.



Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.
Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.

Percepção Pública sobre Comunicação de ONGs em IA


O estudo revela uma divisão significativa: enquanto 29% dos entrevistados prestariam “alguma atenção” e 30% dariam “considerável atenção” às declarações de ONGs sobre seu uso de IA, um grupo expressivo (13%) demonstra desinteresse (“nenhuma” ou “pouca atenção”). Apenas 24% se mostram altamente engajados (“muita atenção”), e 5% não apoiam nenhuma organização. 


Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.
Charities Aid Foundation (CAF). (2024). What the public think of charities using AI.

Esses dados sugerem que, embora parte do público valorize a transparência no uso de IA por instituições beneficentes, uma parcela relevante ainda permanece indiferente ou desconectada do tema, destacando a necessidade de estratégias de comunicação mais efetivas para envolver diferentes perfis de apoiadores.

No Brasil, a LGPD estabelece requisitos para o uso de ferramentas de IA, especialmente em relação ao processamento de dados pessoais. No entanto, ainda há desafios para incorporar as especificidades da própria inteligência artificial — um ponto que a pesquisa destacou como preocupação entre os entrevistados, refletindo receios com o avanço tecnológico.



Referência 

  1. CAF (Charities Aid Foundation). O que o público pensa sobre o uso de IA por instituições de caridade. 2024. Disponível em: https://www.cafonline.org/insights/research/what-the-public-think-of-charities-using-ai. Acesso em: 15 abr. 2024.


  2. IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social). Pesquisa global revela percepção sobre o uso de inteligência artificial por ONGs. 2024. Disponível em: https://www.idis.org.br/pesquisa-global-revela-percepcao-sobre-o-uso-de-inteligencia-artificial-por-ongs/. Acesso em: 15 abr. 2024.


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