A ECONOMIA DA ATENÇÃO: FAKE NEWS E A CRISE DE IMAGEM NAS REDES SOCIAIS
- Mariele Santos
- 5 de jun. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2024
As redes sociais transformaram-se em arenas públicas onde influenciadores e artistas exercem suas profissões e constroem suas marcas pessoais. Plataformas como TikTok e Instagram tornaram-se centrais para a economia de atenção, sendo a principal fonte de renda para muitos criadores de conteúdo. No entanto, mesmo com suas carreiras ancoradas nessas plataformas, muitos influenciadores e artistas ainda se comportam como figuras privadas dentro de empresas privadas, gerando uma série de reflexões e questionamentos.

Imagem: Outras Palavras.
A dualidade entre a vida pública e privada é um dos principais desafios enfrentados por essas figuras. Por um lado, a monetização de seu conteúdo exige transparência, autenticidade e uma conexão contínua com o público. Por outro, a preservação de uma esfera pessoal é essencial para a saúde mental e bem-estar dos criadores. A linha tênue entre a exposição necessária e a privacidade desejada é constantemente testada.
É importante considerar que essas plataformas, embora sejam fontes de renda, são empresas com suas próprias regras e algoritmos, que muitas vezes incentivam comportamentos que maximizem o engajamento, mesmo que isso signifique sacrificar aspectos da vida privada. Os influenciadores, ao se submeterem a essas regras, podem se ver compelidos a compartilhar mais do que gostariam ou a se envolver em práticas que atraiam a atenção, mas que podem ser prejudiciais a longo prazo.
Ademais, a percepção pública sobre influenciadores e artistas como figuras públicas inevitavelmente pressiona esses indivíduos a se comportarem de maneira que satisfaça as expectativas do público. Essa pressão pode levar a uma falsa sensação de obrigação de estar sempre “ligado” e disponível, reforçando a ideia de que sua vida é um espetáculo constante.

Luana Piovani e Neymar trocam farpas nas redes — Foto: Reprodução/Instagram.
Um exemplo recente é Neymar, uma personalidade global, cuja vida pessoal e profissional está constantemente sob os holofotes. Qualquer ação ou declaração do jogador rapidamente se torna notícia e, muitas vezes, alvo de envolvimento político de negócios particulares. Recentemente, Neymar se envolveu em uma polêmica discussão pública com a atriz Luana Piovani sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) conhecida como ‘PEC das Praias’. Essa proposta, que discute a possibilidade de privatização de terrenos à beira-mar, gerou uma grande controvérsia.
A atriz publicou vídeos nas redes pedindo que as pessoas fossem contrárias à PEC. A iniciativa foi acompanhada por instituições ambientais.
“Lembrá-los que todos têm que votar contra a privatização das praias. É, senhoras e senhores, 2024 e a gente já chegou nesse lugar. Lembra que eu falei que é difícil ser cidadã no Brasil. É a mesma coisa, é o que eu estou querendo dizer. Como é que a gente tem que batalhar por não privatizar praia?”
Na semana passada, Neymar anunciou uma parceria com uma incorporadora para a criação de um projeto anunciado como “Caribe brasileiro”, com imóveis de alto padrão em uma área de 100 quilômetros entre os litorais de Pernambuco e Alagoas. Após a aprovação da PEC, o vídeo foi resgatado nas redes sociais para demonstrar quem será beneficiado, caso haja mudança na regra atual.

Projeto de reurbanização da Praia Central, em Balneário Camboriú, com visão aérea mostrando calçadão e restinga — Foto- PMBC/Divulgação
Piovani chamou Neymar de ‘péssimo cidadão’ Piovani criticou o empreendimento do jogador.
“Ele é um péssimo cidadão, péssimo exemplo como pai e péssimo exemplo como homem, como marido, como companheiro, péssimo!”, disse Piovani nas redes.
A briga entre Neymar e Piovani trouxe à tona questões sobre a privatização de áreas de marinha, potencialmente restringindo o acesso público às praias e impactando o meio ambiente. Ao se posicionarem publicamente, ambos mobilizaram suas vastas audiências para um debate de grande relevância pública. No entanto, essa exposição também serviu para reacender críticas sobre a atuação de Neymar fora dos campos, especialmente no que tange à sua responsabilidade como figura pública.
Podemos observar que, nessa discussão, há uma crise de imagem. As pessoas que defendem Neymar o fazem com o discurso de que ele foi prestativo durante a tragédia no Rio Grande do Sul, praticando filantropia enquanto lucra com atividades que podem ser vistas como prejudiciais ao meio ambiente. Essa dualidade pode ser interpretada como uma tentativa de limpar sua imagem às custas da distribuição de ajuda.

Ilustração- Kako Abraham/BBC.
A disseminação de fake news e as crises de figuras públicas estão intimamente ligadas, e têm consequências reais que podem afetar profundamente a sociedade. Influenciadores e artistas, como figuras públicas, têm o dever de verificar a veracidade das informações que compartilham e promover um ambiente online saudável, sendo punidos caso estejam disseminando fake news.




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